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Relação entre suicídio e trabalho é destaque no Encontro Sudeste do Programa Trabalho Seguro

publicado: 10/09/2024 às 19h53 | modificado: 12/09/2024 às 17h28
Resumo em texto simplificado

Durante o "Encontro Sudeste do Programa Trabalho Seguro: Setembro Amarelo", Jorge Boucinhas Filho, professor da FGV, destacou que os anos 1990 marcaram o aumento dos estudos sobre a relação entre trabalho e suicídio, mencionando fatores como a desestruturação dos coletivos de trabalho e a solidão do trabalhador. O desembargador Marcelo Pertence abordou a invisibilidade dos trabalhadores, enquanto o ministro do TST, Alberto Bastos Balazeiro, falou sobre a importância de identificar riscos psicossociais. A psicóloga Gláucia Tavares enfatizou a prevenção, sugerindo o uso do termo "esperançar" como verbo. O evento contou ainda com depoimento de sobrevivente enlutado e a descrição de um protocolo humanizado de resgate de tentativas de suicídio.

Saiba mais sobre esta iniciativa

“Os anos 1990 foram um marco dos estudos da relação entre trabalho e suicídio. A partir dessa década os casos foram aumentando. Há casos difíceis de provar a relação entre suicídio e trabalho e as empresas buscam se isentar de tal responsabilidade. O trabalho não é feito só para remuneração, mas também é feito para que as pessoas se sintam parte de um todo, produtivas e relevantes. Quando se tira isso, é natural surgir problemas”, destacou o professor da Fundação Getúlio Vargas e mestre pela USP, Jorge Boucinhas Filho, durante o “Encontro Sudeste do Programa Trabalho Seguro: Setembro Amarelo”, na tarde desta terça-feira (10/9), na modalidade telepresencial.

Ele também explicou que alguns fatores podem contribuir para o suicídio, como desestruturação dos coletivos de trabalho; solidão do trabalhador contemporâneo; privilégios aferidos pela gestão; psicodinâmica do reconhecimento no trabalho e noção de qualidade total do trabalho e o quanto isso impacta no modo de vida dos trabalhadores.

O gestor regional do Programa Trabalho Seguro, desembargador do TRT-MG, Marcelo Pertence, abordou a invisibilidade de muitos trabalhadores e a relação com o suicídio. Parabenizou os palestrantes e perguntou como o Corpo de Bombeiros desenvolveu o protocolo de ajuda aos tentantes de suicídio. Também questionou o papel dos psicólogos no ambiente de trabalho e na prevenção de casos de suicídio. A gestora regional do Programa Trabalho Seguro para o 1º grau, juíza Ângela Castilho Rogedo, também marcou presença no evento.  

O encontro foi uma iniciativa da Ejud 2, Subcomitês de Trabalho Decente e Seguro dos cinco regionais do sudeste (TRT3, TRT1, TRT2, TRT15 e TRT17) e do Programa do Trabalho Seguro do Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT). A presidente da mesa foi a gestora sudeste do Trabalho Seguro, juíza Lorena Colnago (TRT2). 

Programa Nacional de Prevenção de Acidentes

O coordenador do Comitê Gestor Nacional do Programa Trabalho Seguro e ministro do TST, Alberto Bastos Balazeiro, falou sobre “Saúde Mental e Setembro Amarelo – Programa Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho em Perspectiva”.

Ele abordou a tutela psicossocial do meio de trabalho decente e saúde mental a partir da Constituição Federal. “É preciso identificar riscos psicossociais e formas de adoecimento, que nem sempre são tão gritantes. E ainda as interseccionalidades, como gênero e raça”, afirmou.  

Suicídios e lutos

A psicóloga clínica e mestre em Ciências da Saúde pela UFMG, Gláucia Tavares, falou sobre suicídios e lutos. Temos que sair do efeito Wether para o efeito Papageno e mudar essa narrativa para uma prevenção adequada. Não devemos também divulgar meios de se matar ou especular sobre o que levou alguém a tirar a própria vida. É multifatorial”, disse.  

Segundo ela, suicídios e lutos são construções sociais. Entre os fatores de risco, destacam-se a ideação, armas disponíveis e baixa interação social. “Temos que acompanhar a dor e cuidar dela. A ideia é de usar esperançar como verbo”.

Sobrevivente enlutado

O oficial de justiça aposentado e sobrevivente enlutado,  Ivo Oliveira Farias, relatou sua experiência como pai de uma jovem que se suicidou. Ele contou que quanto mais forte conseguirmos ser, não estaremos em sofrimento. “Eu não estou mais em sofrimento. A gente consegue se acostumar e olhar pra ela até com algum respeito. A dor pode nos levar para a destruição ou reconstrução. Depende de nós. Hoje somos muitos lutando pela prevenção e posvenção do suicídio”, enfatizou.

Protocolo para salvar vidas

A cabo do Corpo de Bombeiros do Espírito Santo, Thaís Mendonça, contou como funciona o seu trabalho de resgate de tentativas de suicídio, sobretudo na 3ª Ponte, em que muitos tentam se lançar para a morte. “Temos um protocolo humanizado, semelhante ao de São Paulo, em que promovemos um diálogo com o tentante”.

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