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“A própria relação de emprego está atravessada pela colonialidade”, diz autora da obra lançada no Leis e Letras

publicado: 30/11/2023 às 19h33 | modificado: 04/12/2023 às 15h35

Na apresentação do seu livro “Decolonizando o emprego por um olhar outro sobre as margens”, a autora, oficial de justiça e avaliadora federal do TRT-MG, Gabriela Bins Gomes da Silva, destacou que a colonialidade é um evento prolongado e por isso o título está no gerúndio. “A própria relação de emprego está atravessada pela colonialidade. Uma forma de decolonizar é nos voltarmos aos manuais trabalhistas e perceber que as lutas de negros e indígenas são silenciadas, ao contrário da luta sindical de imigrantes europeus no Brasil”, explicou ao lançar a obra, na tarde desta quinta (30), em mais uma edição do Leis e Letras, realizada de forma presencial no auditório da Escola Judicial (Ejud), no centro de Belo Horizonte.

foto de Gabriela Bins, autora do livro.

Bins falou que o objetivo do livro e promover um debate sobre as múltiplas formas de trabalho precárias e invisíveis ao Direito do Trabalho, além de ampliar as proteções sociais. Ela disse que a lógica colonial está nos trabalhadores de norte a sul do planeta e que atinge corpos subalternos. Nesse sentido, as mulheres negras ocupam a frente dessa precarização, longe da proteção do capitalismo.

“O conhecimento elaborado por uma elite europeia não corresponde integralmente à realidade. Não é desmerecê-la, mas sim entender que é parte de uma narrativa. E foi por isso que usei no meu livro, predominantemente, autores latino-americanos”, afirmou.

A mesa de honra foi composta pelo conselheiro da Escola Judicial e juiz titular da 6ª Vara do Trabalho de BH, Alexandre Wagner de Morais Albuquerque; pela autora do livro, Gabriela Bins Gomes da Silva; pela professora da PUC/MG, Maria Cecília Máximo Teodoro; pela professora adjunta de Direito da UFOP, Flávia Souza Máximo Pereira e pelo professor substituto de Direito da UFLA e Rede Doctum, Rainer Bomfim.

Desvalorização do trabalho doméstico, opressão da mulher e lugar de fala

Durante o evento, alguns formadores tomaram a palavra para promover reflexões em cima do tema da obra. A professora da PUC/MG, Maria Cecília Máximo Teodoro, que orientou Gabriela Bins na universidade, abordou o olhar de quem está as margens e o motivo de as mulheres acabarem ficando permanentemente no lugar do cuidado. “Tudo isso faz parte de uma visão colonial derivada de um sistema patriarcal. O homem ocupa o espaço púbico e a mulher ocupa o espaço domestico, o que se assemelha a uma servidão contemporânea. O trabalho doméstico, que não produz lucro, continua sendo exercido por mulheres e é atribuído a elas como natural. O trabalho doméstico só gera valor de uso e por isso ninguém o enxerga”, relatou.

foto da professora da PUC/MG, Maria Cecília Máximo Teodoro, de roupa verde.

"Maria Cecília explicou ainda que dizer que há uma opressão de mulheres brancas sobre mulheres negras em que as privilegiadas aceitam contratar mulheres pobres é um equívoco porque a um só tempo desvaloriza o trabalho de cuidado como algo que não deveria existir mais e não responsabiliza os homens, como se as responsabilidades de cuidado fossem apenas das mulheres. Ela afirma que o importante é valorizar e respeitar o trabalho doméstico, além de responsabilizar os homens pelo trabalho de cuidado."

Em seguida foi a vez professora adjunta de Direito da UFOP, Flávia Souza Máximo Pereira, que frisou que a colonialidade está no mundo do trabalho. “A autora em sua obra ousa em falar sobre o não-dito e sobre as feridas abertas. Ela nos convida a lutar pela própria existência do Direito do Trabalho e para decolonizar o emprego. Façamos como ela e sejamos travessia para, quem sabe, no meio do caminho, possamos alterar os sons do mundo trabalho”, concluiu.

foto da professora adjunta de Direito da UFOP, Flávia Souza Máximo Pereira, de blusa preta

O professor substituto de Direito da UFLA e Rede Doctum, Rainer Bomfim, finalizou o evento e citou a professora Djamila Ribeiro para explicar sobre lugar de fala, tão importante para se ter consciência das desigualdades sociais. Ele afirmou que Gabriela Bins é uma pesquisadora que se importa e questiona os próprios privilégios. “Que nossos encontros sejam cada vez mais ricos e plurais”, desejou.

foto do professor substituto de Direito da UFLA e Rede Doctum, Rainer Bomfim, de terno azul

Após o encerramento, houve uma sessão de autógrafos e coquetel para os participantes.

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