Palestra alerta para fatores de adoecimento no trabalho
Resumo em texto simplificado
No segundo dia da Semana Nacional de Combate ao Assédio e à Discriminação no TRT-MG, especialistas alertaram para sinais de adoecimento no trabalho e práticas abusivas naturalizadas. A assistente social Karla Valle destacou como atitudes cotidianas e o produtivismo excessivo favorecem o assédio. O medo ainda é barreira para denúncias, segundo o desembargador Delane Marcolino. O psicólogo Arthur Lobato reforçou a importância da Resolução 351 do CNJ no combate ao assédio moral. O dia encerrou com debate sobre o filme O Diabo Veste Prada, analisando exigência profissional e abuso.
Saiba mais sobre esta iniciativaO segundo dia da Semana Nacional de Combate ao Assédio e à Discriminação no TRT-MG, realizado no auditório da Escola Judicial, foi marcado por palestras que alertaram para os sinais de um ambiente de trabalho adoecido e que leva ao adoecimento dos trabalhadores. O evento foi aberto à participação do público com transmissão pelo canal do TRT-MG no Youtube. As atividades do dia foram abertas pela palestra da assistente social do TRT-RJ, mestre e doutora em Serviço Social, Karla Valle, que alertou para fenômenos da vida moderna que estão banalizando violações em nome da eficiência no trabalho. Segundo ela, o mundo hiperconectado favorece abusos do chamado "produtivismo", como as mensagens a qualquer tempo nos aplicativos de conversa, gerando estresse e minando a saúde do trabalhador, que sente seu tempo livre cada vez mais comprometido pelas atividades laborais.
Karla Valle também apresentou o conceito de assédio no ambiente de trabalho, suas formas mais comuns de manifestação, os perfis de assediadores e os impactos nas vítimas. Ela elencou situações corriqueiras verificadas na rotina do trabalho que podem revelar atitudes de assédio, como desqualificar o colega ou esperar sempre o mesmo comportamento, todos os dias. Ou ainda quando o colega é ignorado ou sobrecarregado de tarefas. "O ignorar ou dar funções que estão para além da sua capacidade, isso acaba sendo incutido nos desafios do dia a dia e são características de práticas de assédio", explicou.
Ainda segundo Karla, há práticas que não podem ser banalizadas na rotina laboral. "Aquela fala inapropriada ou mais agressiva pode construir um caminho, infelizmente, favorável às práticas de assédio, de discriminação no ambiente de trabalho. Então é um chamamento para refletirmos sobre o cotidiano e como ele pode abrir portas para isso", concluiu. A assistente social ainda reforçou a importância das portas abertas ao acolhimento das vítimas.
A coordenadora do Comitê de Ética e Integridade do TRT-MG, desembargadora Rosemary de Oliveira Pires Afonso, que compôs a mesa neste painel, elogiou a palestra que, conforme ela, chamou atenção de todos sobre nossas atitudes. "Foi uma das melhores palestras que já ouvi e nos fez refletir sobre a autocompreensão dos nossos próprios erros".
Medo como barreira
O coordenador do Subcomitê de Enfrentamento do Assédio Moral, do Assédio Sexual e da Discriminação do 2º Grau, desembargador Delane Marcolino Ferreira, que também compôs a mesa do debate, chamou a atenção para dois aspectos importantes: a relação entre o teletrabalho e o adoecimento mental e o desafio para o acolhimento de denúncias anônimas de assédio. No debate que se seguiu ficou claro que a barreira do medo ainda é uma constante no ambiente de trabalho e que ela impede que muitas denúncias sejam levadas a termo, comprometendo o combate à cultura do assédio.
A mesa dos painéis da manhã foi compartilhada ainda pela curadora do Centro Cultural do TRT-MG, a desembargadora aposentada Emília Facchini e pelo secretário de Desenvolvimento de Pessoas, Bruno Torrozo.
Importância da Resolução 351 do CNJ
A segunda palestra foi apresentada pelo coordenador técnico do Departamento de Saúde do Trabalhador e de Combate ao Assédio Moral, o psicólogo do Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário (Sitraemg), Arthur Lobato. Ele destacou que a confiança na instituição em que se trabalha e a solidariedade dos colegas são fatores essenciais no combate à cultura do assédio. E chamou a atenção para a Resolução 351 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). "A resolução deu visibilidade ao fenômeno do assédio moral enquanto um conceito, enquanto um fator de adoecimento num ambiente de trabalho", alertou.
Ele também citou a evolução da Norma Reguladora nº 1 (NR1), que irá cobrar das empresas a responsabilidade pela saúde mental dos trabalhadores. "É muito importante essa semana de prevenção, porque nós podemos empoderar as pessoas para que possam ter um ambiente livre e saudável de trabalho", concluiu.
Ao final do dia, houve sessão de cinema comentada, conduzida à tarde pela servidora Fernanda Freire. O filme exibido foi o Diabo Veste Prada (EUA-2006), seguido de uma conversa leve e instigante sobre os limites entre exigência profissional e práticas abusivas no ambiente corporativo. A atividade promoveu um olhar crítico, mas descontraído sobre as relações de poder no trabalho.