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Palestras sobre direitos da pessoa LGBTQIA+ e padrões heteronormativos movimentam 2º dia do seminário Julgamento sob perspectiva de gênero

publicado: 27/06/2024 às 20h09 | modificado: 27/06/2024 às 20h23

No segundo dia do seminário “Julgamento sob perspectiva de gênero”, realizado nesta quinta-feira (27/6), no auditório da Escola Judicial do TRT-MG, foram realizadas quatro palestras, divididas em dois painéis: “Julgamento com perspectiva interseccional de gênero e de orientação sexual” e “A sociedade binária e seus padrões heteronormativos”. 

O juiz do TRT-MG Alexandre Wagner de Morais Albuquerque, conselheiro da Escola Judicial, presidiu o primeiro painel e enfatizou a importância de promover essa discussão entre os servidores e magistrados da instituição. Segundo ele, “as medidas efetivas da questão de direitos humanos são elementares, principalmente dentro do Judiciário. E muitos de nós, magistrados, talvez não percebamos que pequenas questões sutis, de forma involuntária, podem ofender grupos minoritários”. 

STF reconhece LGBTfobia

A primeira palestra, intitulada “Medidas efetivas para proteção dos Direitos Humanos das Pessoas LGBTQIAPN+”, foi ministrada pelo professor Lawrence Estivalet de Mello, da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Durante sua apresentação, ele destacou que o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu a LGBTfobia institucional no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) 26. 

foto do palestrante professor Lawrence Estivalet de Mello e da presidente do TRT-MG e demais componentes da mesa de honra

O professor também apontou uma série de medidas que ainda precisam ser implementadas. “É necessário adotar políticas coordenadas entre os entes federados e os órgãos de poder do Estado brasileiro. Isso implica redemocratizar a sociedade civil por meio de políticas educacionais que reconheçam a influência de uma sociedade cisheteronormativa. A partir dessa perspectiva, é fundamental formular políticas sociais, de saúde, moradia e combate à evasão escolar para proteger a comunidade LGBTI+”, afirmou. 

Na sequência, Wanessa Mendes de Araújo, juíza auxiliar da Presidência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministrou a palestra “Atuação e julgamento com perspectiva de gênero e raça e a promoção da equidade no Poder Judiciário”. Para a magistrada, a realização de seminários com essa temática no âmbito da justiça trabalhista é fundamental, uma vez que muitas das demandas do CNJ estão relacionadas ao mercado de trabalho. "Dentro de nossa competência institucional e jurisdicional, é preciso ter letramento para julgar demandas e fazer com que o ambiente de trabalho seja livre do assédio, do racismo, da homofobia, da xenofobia”, concluiu.

foto da palestrante Wanessa Mendes de Araújo, juíza auxiliar da Presidência do CNJ, ao lado de outros componentes da mesa de honra

Rompimento da sociedade binária e uso de banheiro por mulher trans

À tarde teve o 3º Painel - A sociedade binária e seus padrões heteronormativos, cuja presidente da mesa foi a servidora do TRT-MG e membro do Comitê Gestor Regional do Programa de Equidade de Raça, Gênero e Diversidade, Marisa Campos Tomáz. A primeira palestra foi da juíza do TRT-MG, Jéssica Grazielle Andrade Martins, que falou sobre a "Atuação e julgamento com perspectiva de gênero – trocando a venda nos olhos por lentes que evidenciam as vulnerabilidades".

foto da palestrante juíza do TRT-MG, Jéssica Grazielle Andrade Martins, em pé com a mesa de honra ao lado

Ela abordou o rompimento de paradigmas da sociedade binária e heteronormativa para que a sociedade possa usar as lentes que evidenciam as vulnerabilidades das pessoas. "Que possamos julgar desigualmente os desiguais e igualmente os iguais. Hoje a minha palestra é sobre tirar a venda dos olhos e jogar luz para que possamos enxergar o outro e reconhecer as vulnerabilidades que permitem, de uma forma institucionalizada, que as pessoas sofram violência de forma sistemática. Os magistrados e magistradas precisam enxergar essa pessoa com esse contexto de violência para que ela seja vista e acolhida dentro do Poder Judiciário", disse.   

Fechando a programação do 2º dia, o professor da UFOP, Alexandre Melo Franco Bahia, ministrou palestra sobre "Julgamento sem Perspectiva de Gênero e nem Respeito à Diversidade: o caso do banheiro da mulher trans". Em sua fala, ele destacou que o Judiciário precisa olhar para questões específicas de gênero, sobretudo as mulheres trans. "Muitas vezes o Judiciário não tem um olhar tão certo certo com relação a essas mulheres. O STF fez o julgamento de um recurso extraordinário de uma mulher trans que pedia uma indenização perante um shopping de Florianópolis por causa de uso do banheiro e o STF acabou negando esse direito a ela por razões processuais. Minha posição hoje foi mostrar e criticar essa jurisprudência defensiva do STF que parece não querer se envolver na matéria e se livrou do processo alegando razões processuais. Isso só demonstra a importância de se discutir sobre diversidade de gênero em geral", explicou.  

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foto do palestrante professor da UFOP, Alexandre Melo Franco Bahia, em pé falando, ao lado da mesa de honra

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