Um Novo Olhar sobre a Inclusão: “A deficiência está muito mais no olhar da sociedade do que na própria pessoa com deficiência”
“A deficiência está muito mais no olhar da sociedade do que no próprio corpo da pessoa com deficiência”, destacou a auditora-fiscal do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Patrícia Siqueira, ao iniciar as palestras do seminário “Um novo olhar para a inclusão”, na tarde desta sexta-feira (22), no plenário do edifício-sede da instituição, na avenida Getúlio Vargas, 225, 10º andar, em Belo Horizonte.
Antes, o presidente do TRT-MG, desembargador Ricardo Mohallem, abriu o evento e contou sua experiência de infância com um irmão cadeirante, na década de 1970, e sobre como os tempos mudaram e hoje temos que descobrir a habilidade de todos. A Roda de Cantoria da Apae trouxe música com elementos folclóricos, com cirandas e ritmos percussivos. Ainda foi exibido para todos um vídeo com testemunho da estagiária Crislândia Silva, da Secom, que é cadeirante, contando como o TRT-MG adaptou o espaço para que ela desempenhasse suas funções.
"Eu cheguei no TRT-MG em janeiro, querendo muito por ser o primeiro estágio externo à Universidade. E é importante lembrar que não só adaptações físicas foram feitas. Todos que convivem comigo, são compreensivos e colaborativos com várias questões. Cadeirantes também têm dificuldades com os elevadores dos ônibus, cadeira de rodas com problemas, chuva. À propósito, me sugeriram conseguir uma cadeira que vira canoa nos dias chuvosos. O que vai ser da minha carreira, eu não sei. Contudo, tenho muita alegria em saber que meu trabalho na comunicação passa por aqui."
Patrícia Siqueira falou também sobre a importância da aprendizagem profissional na inclusão de pessoas com deficiência (PCD) e as cotas previstas em lei para a inserção delas no mercado de trabalho, funcionando como porta de entrada. “O MTE tem competência para fiscalizar as cotas. Toda empresa com 100 ou mais empregados tem que reservá-las e 92% dos empregados no mercado formal estão nessas cotas. Se elas não existissem, não teria a inclusão. Minas Gerais cobre 61% dessas cotas no mercado. Na Região Sudeste, somos o estado com maior percentual legal, embora haja ainda muitas vagas a serem preenchidas”, explicou.
Ainda esclareceu que, na aprendizagem, as pessoas com deficiência não precisam ter escolaridade específica ou estar matriculadas para serem menores aprendizes. Além disso, segundo Patrícia, a remuneração da aprendizagem pode ser acumulada com o recebimento do Benefício de Prestação Continuada (BPC), o que traz uma certa segurança.
Logo após, foi a vez da professora e coordenadora de esporte paralímpico do Centro de Treinamento Esportivo (CTE) da UFMG, Andressa de Mello. Ela explicou como o CTE é estruturado em parceria com alunos de Medicina, Educação Física, Fisioterapia e de outros cursos da universidade. “Temos parceria com o Comitê Paralímpico Brasileiro. Somos um centro de referência desde 2019, o primeiro do Brasil. A competição traz mais independência aos atletas com deficiência e os pais sabem da importância das viagens na independência deles”, salientou.
Ela lamentou que o programa para autistas foi interrompido no momento por falta de verba, mas acrescentou que já existe uma mobilização via emendas parlamentares para retomá-lo. “A gente só encanta quando se encanta. E sou encantada pelo trabalho que faço. Que não percamos a capacidade de encantar e de cuidar de quem está perto da gente”, finalizou.
Andressa trouxe em seguida dois paratletas, o Yuri e o Taylon, que deram depoimentos emocionantes sobre como o esporte mudou a vida deles para melhor.
Instituição Segunda Letra e o autismo
Depois a palestrante foi a psicanalista e diretora da Associação Segunda Letra, especializada em autismo, Nádia Figueiredo, que contou como foi seu primeiro contato com um garoto autista, quando era estagiária e se identificou com o tema.
“Para acordar um autista é preciso delicadeza e tempo de escuta, além de um consentimento ao outro. O autista passa a consentir com tudo que ele vai aprender depois, a partir desse encontro com o outro. Há uma alquimia maravilhosa também entre a psicanálise e arte”, explanou.
Ela ainda pediu ajuda em forma de doação a quem puder contribuir com a associação sem fins lucrativos, porque são muitos gastos para manter a estrutura. A chave Pix é: (CNPJ) 39.856.543/0001-40.
A Associação Segunda Letra possui uma equipe com profissionais de diversas áreas (psicanalista, terapia ocupacional, fonoaudiologia, artes, psicopedagogia, assistência social, psiquiatria e neurologia), com vasta experiência na condução da clínica com autistas.
Posteriormente, houve depoimentos de duas mães de crianças e adolescentes autistas sobre como a Segunda Letra as ajudou no trato com seus filhos.
Encerramento
Fechando o evento, a última palestrante foi a conselheira e presidente da Comissão de Pessoa com Deficiência da OAB, Michelly Siqueira. Ela trouxe um dado de que no Brasil, atualmente, há 18,6 milhões de pessoas com deficiência e apresentou várias leis que as amparam.
“Se a sociedade não participar, não adiantará nada. A inclusão não vai acontecer. Precisamos de leis que funcionem e de uma sociedade que fiscalize a aplicação delas. Que a inclusão vire rotina em todos os espaços”, concluiu.
O evento marcou o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, celebrado em 21 de setembro, data que lembra a construção de mobilizações para a inclusão social de pessoas com deficiência e a conscientização da luta anticapacitista. Foi uma realização do Programa de Combate ao Trabalho Infantil e Estímulo à Aprendizagem do TRT-MG, com o apoio da Associação Segunda Letra, da Asttter, do Centro de Treinamento Esportivo (CTE) da UFMG, da OAB/MG e do MTE.
A mesa de honra foi composta pelo presidente do TRT-MG, Ricardo Mohallem; pelo vice-corregedor, desembargador Manoel Barbosa da Silva; pela coordenadora do Programa de Combate ao Trabalho Infantil e Estímulo à Aprendizagem, desembargadora Jaqueline Monteiro de Lima, e pelo coordenador do Comitê de Acessibilidade e Sustentabilidade do Tribunal, desembargador Paulo Maurício Ribeiro Pires.
O evento contou com transmissão ao vivo pelo canal do Tribunal no YouTube. Assistam, na íntegra, abaixo: