Prática da gestão por estresse é discutida em Seminário sobre Atividades Bancárias e Adoecimento Mental
Duas auditoras fiscais do Trabalho, Odete Cristina Pereira Reis e Mônica Resende Macedo, palestraram, na manhã desta sexta (6/10), no Seminário “Atividades Bancárias e Adoecimento Mental” , promovido pela Escola Judicial do TRT-MG e pelo Comitê Regional do Programa Trabalho Seguro, no auditório do 8º andar do prédio-sede do TRT-MG, em Belo Horizonte.
A primeira a falar sobre “Riscos psicossociais, assédio moral e adoecimento no setor bancário” foi a auditora fiscal do Trabalho, com formação em medicina pela UFMG, Odete Cristina Pereira Reis, que afirmou que até 2012 o setor bancário era afetado mais pela doença Lesão por Esforço Repetitivo (LER/DORT) e a partir de 2013 a maior causa de adoecimento passa a ser os transtornos mentais. “Os bancos ocupam o primeiro lugar no ranking de ações trabalhistas por transtornos mentais, que são a principal causa de incapacidade, segundo dados de 2022 da Organização Internacional do Trabalho (OIT)”, explicou.
Ela também destacou que há muitos fatores que contribuem para os riscos psicossociais de adoecimento mental, ou seja, são as interações do trabalhador com o trabalho em si e as condições oferecidas. “A cultura organizacional problemática pode ser um desses fatores. O trabalho contínuo com público e trabalho noturno também são alguns exemplos. No caso dos bancários, é proibido expor ranking de vendas, mas isso continua acontecendo de forma sutil, o que se torna um fator de risco psicossocial. Alguns bancos ainda não emitem Comunicação por Acidente de Trabalho (CAT) por adoecimento mental, é muito raro emitirem. É preciso ter regras de conduta e capacitação anual, além de um canal apropriado para recebimento de denúncias em casos de assédio moral e sexual”, frisou.
Em seguida foi a vez da auditora fiscal do Trabalho e monitora da Escola Nacional de Inspeção do Trabalho, Mônica Resende Macedo, que abordou o tema “Fraude à Jornada dos Bancários”. Ela contou que há muita dificuldade de se conseguir documentos dos bancos. “Fizemos um estudo no setor bancário e percebemos que falta mais transparência. Há softwares que possibilitam mudar jornada de trabalho e também muito assédio pelo celular. São muitas metas de vendas a serem cumpridas nas agências, aferidas por algoritmos. Há uma gestão por estresse institucionalizada, o que leva ao adoecimento mental. Parece que querem ver até onde as pessoas aguentam a pressão, gerando ansiedade. É muito frustrante”, relatou.
Boas-vindas
O presidente do TRT-MG, desembargador Ricardo Mohallem, abriu o evento, dando as boas-vindas aos participantes. Ele falou que se trata de um tema muito interessante a ser tratado e estudado para ver se um dia voltamos ao equilíbrio mental. “Desejo que desse encontro possamos retirar reflexões boas para nossas vidas pessoal e profissional”.
A 2ª vice-presidente do TRT-MG, desembargadora Rosemary de Oliveira Pires, disse que o evento é importante para entender melhor o universo de uma determinada categoria. “Apesar de o adoecimento mental ser comum a todos, pode afetar ainda a família ao redor. Portanto, trata-se de doença contagiosa. O quadro é de grande tristeza e temos que ter o mínimo de empatia”.
A gestora de 1º grau do Programa Trabalho Seguro, juíza do trabalho Ângela Castilho, abordou em sua fala a importância de enfrentar esse tema para que haja prevenção. Conforme a juíza, há 20 anos víamos a LER/DORT atingindo muito os bancários e agora veio o adoecimento mental proveniente da busca incessante do lucro.
A mesa de honra foi composta pelo presidente do TRT-MG, desembargador Ricardo Mohallem; pela 2ª vice-presidente, ouvidora e diretora da Escola Judicial Rosemary Pires Afonso; pela gestora de 1º grau do Programa Trabalho Seguro, juíza do trabalho Ângela Castilho Rogêdo Ribeiro; e pelas palestrantes Mônica Resende Macedo e Odete Cristina Pereira Reis.
Alunos do grau técnico em Enfermagem da Escola Barreiro marcaram presença.
O evento foi aberto ao público externo e realizado em formato híbrido, ou seja, presencial e também com transmissão ao vivo pelo Canal do TRT no YouTube. Confiram na íntegra: