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Painel traz visão interdisciplinar sobre doença mental no trabalho

publicado: 16/11/2009 às 15h44 | modificado: 16/11/2009 às 17h44

O nexo de causalidade entre doença mental e trabalho foi o tema do painel promovido pela Escola Judicial na tarde da última sexta-feira, dia 13, como parte do curso “Meio ambiente do Trabalho e Saúde do Trabalhador”. O evento propôs uma reflexão interdisciplinar envolvendo a Medicina do Trabalho, a Psicanálise e a Psiquiatria e integrou as atividades do Curso de Formação Inicial dos juízes do trabalho.

Painel traz visão interdisciplinar sobre doença mental no trabalho (imagem 1)
Elizabeth Costa Dias, médica do trabalho; Judith Albuquerque, psicanalista da Escola Judicial e Narahy Paulino, psiquiatra e professora da UFMG participam do painel. “O trabalho é fonte de vida, mas ninguém deve morrer por causa dele ou nele”, diz Narahy.

O tema do painel tem causado bastante polêmica e, por isso, precisa ser debatido pelos novos magistrados. Esta é a opinião defendida pela médica do trabalho, Elizabeth Costa Dias. Para ela, o painel deve começar uma reflexão que é mais ampla. “Este grupo em formação com certeza vai se defrontar com situações envolvendo as doenças mentais e o trabalho no cotidiano. Apesar de acontecer de forma muito rápida, a discussão do painel abre algumas possibilidades para que comecem a pensar sobre o assunto, buscar essa referência, saber a quem recorrer quando precisarem de ajuda em uma situação concreta de trabalho”, explica a médica sobre a importância do painel para os novos juízes.

As questões relacionadas às doenças mentais estão aparecendo nos processos trabalhistas de forma intensa, segundo a psicanalista da Escola Judicial, Judith Albuquerque. Esse fato tem provocado muita dificuldade entre os juízes e a psicanálise vem auxiliá-los na interpretação das informações que constituem o processo. “A dificuldade do juiz do trabalho é saber se o reclamante adoeceu no trabalho ou em função do trabalho e esta linha é muito tênue. O Judiciário precisa punir a empresa abusiva, o desrespeito, independentemente de adoecimento ou não. Mas, infelizmente, o foco está no adoecimento. O abuso tem que ser punido por si só”, explica a psicanalista.

Para que se avance na reflexão sobre as doenças mentais e o nexo de causalidade com o trabalho, direcionando o foco para além do mero adoecimento, uma solução, segundo a psiquiatra e professora da UFMG, Narahy Paulino, é a discussão interdisciplinar. “Juízes discutindo com técnicos, técnicos discutindo com juízes, técnicos discutindo entre si, médicos, psicólogos, psiquiatras, psicanalistas. Através de um trabalho conjunto será possível formar um corpo de conhecimento que permita ao juiz julgar da forma mais próxima da realidade possível”. A importância de um relacionamento mais adequado entre juízes e peritos foi ressaltada pelo desembargador Sebastião Geraldo de Oliveira, que participou da comissão idealizadora do curso “Meio ambiente do Trabalho e Saúde do Trabalhador”.

A ideia defendida pelas especialistas, representantes das três áreas do conhecimento envolvidas no tema, é que o trabalho deve ser encarado com um aspecto positivo e necessário na vida das pessoas e não como uma causa para complicações relacionadas à saúde mental. “O trabalho é fonte de vida, mas ninguém deve morrer por causa dele ou nele. Devemos procurar o máximo possível fazer com que o trabalho seja uma fonte de alegria e sentimos muito quando a pessoa sofre por causa do trabalho ou no trabalho”, sintetiza Narahy.

(Stefânia Faria - estagiária/Divina Dias)

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