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Programa e política de qualidade de vida no trabalho têm de ser implantados a partir das causas de mal estar e bem estar no serviço apontadas pelos próprios destinatários

publicado: 05/04/2013 às 18h14 | modificado: 05/04/2013 às 21h14

Em palestra proferida na tarde de hoje, dia 5, no Plenário da sede do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região (MG), em Belo Horizonte, lotado de servidores, o coordenador do Grupo de Estudo em Ergonomia Aplicada ao Setor Público (Ergopublic) da UNB, Mário César Ferreira, responsável pela implementação do Programa de Qualidade de Vida no Trabalho (IA-QVT) no TRT, mostrou haver preocupação atual com o tema, em nível global, tanto nas instituições públicas quanto nas organizações privadas; fez uma análise crítica dos programas de qualidade de vida ofertados no mercado e apresentou uma visão panorâmica do programa a ser implementado na instituição, que parte de informações confidenciais prestadas pelos servidores, magistrados, profissionais terceirizados e estagiários para discutir e apresentar políticas e programas no intuito de afastar ou minimizar as causas de insatisfação no trabalho.

Programa e política de qualidade de vida no trabalho têm de ser implantados a partir das causas de mal estar e bem estar no serviço apontadas pelos próprios destinatários (imagem 1)
Foto: Madson Morais

Para o pesquisador, o interesse sobre qualidade de vida no trabalho surgiu em virtude dos impactos negativos provenientes da reestruturação produtiva que vem sendo implantada no mundo, com efeitos na produção, nos trabalhadores e nos usuários ou clientes. Na produção, pelos erros, retrabalho, perda material, danificação de máquinas e queda de produtividade; nos trabalhadores, em face do absenteísmo, presentismo, acidentes, doenças do trabalho, licenças-saúde, aposentadorias precoces, rotatividade e suicídios, e nos usuários e clientes, pela insatisfação, reclamações e queixas. Segundo ele, porém, o enfrentamento dessas questões pelas entidades que oferecem solução para a melhoria da qualidade de vida no trabalho têm sido equivocado, por atacar os efeitos e não as causas. Mário Ferreira entende que os serviços assistencialistas, que estão em moda, tais como suporte psicológico, suporte físico corporal, terapias corpo-mente, abordagens holísticas e orientais, reeducação nutricional, atividades culturais e de lazer, têm efeito positivo apenas no momento, porque o trabalhador, em seguida, retorna para o mesmo ambiente nocivo de antes, que é a causa do seu sofrimento. Ainda de acordo com o palestrante, num primeiro instante o trabalhador adere a esses programas, mas depois os abandona, até porque eles acabam "negligenciando a inteligência dos servidores", e o resultado é inverso do esperado, com aumento da insatisfação e de suas conseqüências, sobre si, sobre a produção e sobre o cliente.

Já o conceito do programa do TRT, desenvolvido especificamente para o serviço público, engloba duas perspectivas interdependentes. A da ótica dos dirigentes, que tratam de normas, diretrizes e práticas que visam o bem estar coletivo, e a da ótica dos trabalhadores, em que o trabalho deve ser fonte de prazer, tempo valioso de vida, cuja prática deve se dar em condições adequadas, num ambiente em que as relações sócio-profissionais sejam saudáveis, tudo resultando no ideal que se resume em chegar feliz e sair feliz do trabalho.

A pesquisa de satisfação do quadro de profissionais e estagiários do TRT será feita ainda no mês de abril, por meio de um inventário de qualidade de vida no trabalho que vai permitir o conhecimento, com rigor científico, de qual o nível dessa qualidade na organização, e que vai possibilitar o mapeamento dos indicadores de qualidade de vida, além de auxiliar na gestão do programa de QVT. Também vai gerar subsídios fundamentais para a concepção de uma política de qualidade de vida na instituição.

O vasto questionário é fechado com três perguntas abertas e espaço para comentários e sugestões. Na primeira, deve ser respondido o que é qualidade de vida no trabalho, isso de uma forma conceitual geral, sem relação com o TRT. Na segunda, a resposta deve ser sobre o que no tribunal causa mais bem estar; a terceira, o que causa mais mal estar. No espaço para comentários e sugestões, pode-se prestar informações e opiniões sobre temas ou questões não abrangidas pelo questionário.

A exposição do programa foi aberta pela presidente do TRT-MG, desembargadora Deoclecia Amorelli Dias, que pediu o engajamento de todos. De acordo com ela, é necessário ter conhecimento dos impactos do trabalho na vida dos magistrados, servidores, prestadores de serviços e estagiários, para, a partir daí, discutir projetos que possam atacar as causas de possíveis índices de qualidade de vida no trabalho abaixo da ideal.

No encerramento da palestra, o diretor de saúde do TRT, Geraldo Diniz, lembrou que há muito tempo sua equipe vem atuando na prevenção de doenças, com destaque para os exames e avaliação médica periódica, que somente no ano passado possibilitou a descoberta de dois casos de câncer em servidores, que já foram curados graças ao diagnóstico e tratamento ainda na fase inicial. Também falou do programa de odontologia preventiva, que, apesar de gratuito, tem sido pouco usado pelos servidores; pôs em relevo o trabalho de acolhimento e tratamento promovido pela subsecretaria de psicologia, e lembrou que o Plano de Saúde ofertado aos servidores e seus cônjuges é completo. Apesar de tudo isso, segundo o médico as pessoas continuam infelizes, adoecendo muito, para infelicidade própria, da família e de todos com quem convivem, e "adoecer com o trabalho é muito ruim", concluiu o diretor, segundo o qual o programa de qualidade de vida no trabalho decorre de iniciativa do próprio tribunal e não de imposição do CNJ.

Além dos já citados, também se fizeram presentes ao evento o diretor-geral, Guilherme Augusto de Araújo; a diretora judiciária, Sandra Pimentel Mendes, o diretor de coordenação administrativa, Carlos Athayde Valadares Viégas e o presidente da Asttter, Cassius Drummond. (Walter Salles)

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