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Des. Paula Cantelli: Momento poético e moção de repúdio à Lei da reforma

publicado: 22/07/2017 às 03h00 | modificado: 24/07/2017 às 21h30

A desembargadora do TRT-MG Paula Cantelli, que é também representante da JT no Comitrate, apresentou uma moção de repúdio à Lei 13.429/2017 que, segundo denunciou, “além de violar preceitos constitucionais e compromissos internacionais firmados pelo Estado brasileiro, precariza as relações de trabalho urbano e rural, ao causar redução significativa de salários, aumento da jornada de trabalho, instabilidade dos vínculos empregatícios e possibilidade de agravamento de acidentes de trabalho, além de propiciar o aumento significativo de situações de trabalho análogo ao de escravo”.

Mas antes, ela emocionou os participantes ao recitar um trecho deste belo poema, que leva a uma boa reflexão sobre o tema debatido:

 

Trova do vento que passa

Autor: Manuel Alegre

 

Pergunto ao vento que passa

notícias do meu país

e o vento cala a desgraça

o vento nada me diz.

 

Pergunto aos rios que levam

tanto sonho à flor das águas

e os rios não me sossegam

levam sonhos deixam mágoas.

 

Levam sonhos deixam mágoas

ai rios do meu país

minha pátria à flor das águas

para onde vais? Ninguém diz.

 

Se o verde trevo desfolhas

pede notícias e diz

ao trevo de quatro folhas

que morro por meu país.

 

Pergunto à gente que passa

por que vai de olhos no chão.

Silêncio — é tudo o que tem

quem vive na servidão.

 

Vi florir os verdes ramos

direitos e ao céu voltados.

E a quem gosta de ter amos

vi sempre os ombros curvados.

 

E o vento não me diz nada

ninguém diz nada de novo.

Vi minha pátria pregada

nos braços em cruz do povo.

 

Vi minha pátria na margem

dos rios que vão pró mar

como quem ama a viagem

mas tem sempre de ficar.

 

Vi navios a partir

(minha pátria à flor das águas)

vi minha pátria florir

(verdes folhas verdes mágoas).

 

Há quem te queira ignorada

e fale pátria em teu nome.

Eu vi-te crucificada

nos braços negros da fome.

 

E o vento não me diz nada

só o silêncio persiste.

Vi minha pátria parada

à beira de um rio triste.

 

Ninguém diz nada de novo

se notícias vou pedindo

nas mãos vazias do povo

vi minha pátria florindo.

 

E a noite cresce por dentro

dos homens do meu país.

Peço notícias ao vento

e o vento nada me diz.

 

Mas há sempre uma candeia

dentro da própria desgraça

há sempre alguém que semeia

canções no vento que passa.

 

Mesmo na noite mais triste

em tempo de servidão

há sempre alguém que resiste

há sempre alguém que diz não.

 

Extraído do livro “Praça da Canção”, 1965.

 

 

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