Boletim 22

Mas o que é linguagem simples? - Coluna | Novas formas de cuidar: felicidade corporativa e sustentabilidade humana

Inove-se. coLABore - Laboratório de Inovação e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Vigésima segunda edição. Junho de 2024.

-

Mas o que é linguagem simples? 

Desenho de dois holofotes acesos.

O tema está em alta com o Pacto Nacional do Judiciário pela Linguagem Simples, sobre o qual falamos no Boletim 16. Mas o que é, afinal, linguagem simples? Quais são suas características?

Os princípios da linguagem simples são:

  •  Ajustar o conteúdo de acordo com o público-alvo – praticar a empatia e conhecer melhor para quem a mensagem se destina.
  • Utilizar a linguagem simples para promover acessibilidade – comunicar de forma que qualquer pessoa consiga compreender e usar com autonomia o que está sendo comunicado, inclusive pessoas idosas, com deficiência ou com dificuldade de leitura e interpretação de texto.
  • Entender que a linguagem simples não é uma linguagem informal – utilizar linguagem formal que não seja complicada.

As diretrizes da linguagem simples são:

  • Usar palavras conhecidas e evitar jargões, siglas, termos técnicos e estrangeirismos
  • Evitar substantivos abstratos que indicam ação
  • Usar linguagem inclusiva e sem termos discriminatórios
  • Começar o texto com a informação mais importante
  • Usar frases curtas com ordem direta
  • Usar recursos que facilitem a leitura, como tópicos, imagens, gráficos, ícones
  • Usar voz ativa sempre que possível

 Para saber mais, acesse o guia Linguagem Simples na Gestão Pública.

Coluna | Novas formas de cuidar: felicidade corporativa e sustentabilidade humana

Priscila La Gatta

O tema da Semana de Inovação da ENAP, que acontecerá em Brasília em outubro deste ano, é “Novas formas de cuidar”. A organização do evento anuncia que precisamos sair de uma sociedade do cansaço para uma sociedade do cuidado, e o quanto antes.

Um dos olhares para o cuidado que tenho estudado é a abordagem da felicidade corporativa, como forma de promoção da sustentabilidade humana. O conceito de felicidade corporativa se relaciona ao uso de evidências científicas sobre felicidade, psicologia positiva e bem-estar no trabalho para promoção de mudanças nos ambientes de trabalho que sejam capazes de proporcionar felicidade e bem-estar às pessoas. Renata Rivetti, Fundadora da Reconnect Happiness at Work, é um dos principais nomes na área no Brasil, e a seguir estão algumas informações compartilhadas na Certificação Internacional Chief Happiness Officer (CHO) que ela oferece em parceria com a Happiness Business School, que tem sede em Lisboa.

-Uma definição de felicidade a partir dessa perspectiva é aquela formulada pelo cientista comportamental Paul Dolan: “Felicidade são as experiências de prazer e propósito ao longo do tempo”. Apenas o prazer não resulta em felicidade porque essa fonte é passageira e exige estímulos constantes, e muitas vezes a cultura propaga uma noção de felicidade puramente baseada no prazer, que não se cumpre. O propósito, por sua vez, é um significado de vida, que não precisa ser algo grandioso e a ser alcançado no futuro, correspondendo a ações simples e cotidianas que proporcionem pertencimento, amor, estima e autorrealização.

“Felicidade são as experiências de prazer e propósito ao longo do tempo”. (Paul Dolan)

A felicidade é, ainda, uma construção, que depende de autoconhecimento, autorresponsabilidade e disciplina, que nos levam a mudanças a partir de nossa neuroplasticidade.  Acrescento que a felicidade se relaciona também com fatores ambientais, que são decisivos para como nossa informação genética é ativada (epigenética), com a manifestação de emoções e hábitos a depender das condições de vida, como esclarece Gabor Maté em seu livro “O mito do normal: Trauma, saúde e cura em um mundo doente” (Editora Sextante, 2023).

Daniel Kahneman é um psicólogo e economista israelense-americano conhecido por seu trabalho na psicologia do julgamento e na tomada de decisões, bem como na economia comportamental, trabalho pelo qual recebeu o Prêmio Nobel de 2002 em Ciências Econômicas. De acordo com Kahneman, satisfação no trabalho e felicidade no trabalho são coisas diferentes. Enquanto a satisfação é retrospectiva e decorre de uma avaliação racional (que geralmente envolve salário, condições do trabalho, ambiente e benefícios), a felicidade no trabalho ocorre em tempo real e é uma avaliação de experiência emocional, sobre como a pessoa se sente.

Satisfação no trabalho e felicidade no trabalho são coisas diferentes.

Em uma pesquisa global da Robert Half com 23 mil profissionais identificou-se que a felicidade é experimentada no trabalho de acordo com os seguintes parâmetros:

  1. Resultados do trabalho - sensação de empoderamento; trabalho interessante, desafiador e significativo.
  2. Relações no trabalho - valorização e reconhecimento; senso de inclusão, pertencimento e equidade; relações de trabalho positivas.
  3. Harmonia trabalho-vida - ambiente com segurança psicológica; flexibilidade. 

Por outro lado, é importante distinguir o que não é felicidade corporativa: sala de jogos, festas, aulas de yoga, espaço para atividades físicas, entre outros benefícios. Estes são apenas fatores higiênicos, isto é, ligados a necessidades fisiológicas básicas. Os trabalhadores gostam dessas ofertas e sentem falta delas quando não existem, mas não são felizes no trabalho por conta de tais iniciativas.

A felicidade corporativa depende, afinal, de se redesenhar o trabalho em três dimensões: 

A felicidade corporativa depende, afinal, de se redesenhar o trabalho em três dimensões: tempo, trabalho e relações.

  1. Redesenhar o tempo, promovendo eficiência, planejamento, priorização, produtividade humanizada e regras de reuniões e redução de distrações. Isso permite um melhor equilíbrio trabalho-vida.
  2. Redesenhar o trabalho, com melhor uso da tecnologia, identificação dos pontos fortes dos trabalhadores para incorporação em suas tarefas diárias, e desenvolvimento individual e do time. A consequência esperada é o senso de realização e de significado.
  3. Redesenhar as relações, através de escuta ativa e empatia, reconhecimento e valorização, senso de pertencimento, diversidade, inclusão e equidade. Isso gera um ambiente de segurança psicológica.

Cada uma dessas dimensões comporta ações variadas, a partir de diferentes ferramentas, que são o objeto de trabalho do CHO ou líder de felicidade corporativa.

A jornada por felicidade corporativa e sustentabilidade humana ainda é inicial. O espaço para falar a respeito nos locais de trabalho parece muito pequeno, quando existe. De qualquer forma, é preciso fazer contato com o tema e trazê-lo sempre que possível, pois esse é o caminho para a inovação e o futuro do trabalho.

Divisão de Planejamento e Inovação gestaoestrategica [arroba] trt3.jus.br